sexta-feira, 20 de março de 2009

arquitetura


A arquitetura interna dos textos:
a arquitetura
textual no nível mais profundo do “folhado textual”. Essa arquitetura
é constituída pelo plano geral do texto, pelos tipos de discurso,
pelas modalidades de articulação entre seus tipos de discurso
e pelas seqüências que casualmente aparecem no plano geral
do texto.
O plano geral do texto refere-se à disposição de conjunto do
conteúdo temático. De acordo com Bronckart (2007), ele pode, de
um lado, ser codificado em um resumo e, de outro, apresentar-se claramente
no processo de leitura.
Os tipos de discurso nomeiam os segmentos diversos de um
texto e constituem os elementos fundamentais da arquitetura interna
dos textos. Bronckart (2007) aborda esse conceito como uma continuidade
dos trabalhos de Benveniste (1966), Weinrich (1973) e Simonin-
Grumbach (1975).
Através da abordagem desses autores, Bronckart (2007) constrói
sua própria abordagem com o objetivo de descrever, de um lado,
os planos de enunciação ou mundos e as operações psicológicas nas
quais se baseiam e, por outro lado, descrever as configurações de unidades
lingüísticas que “traduzem” esses mundos em uma língua
natural.
O autor centra-se, inicialmente, na questão da construção dos
mundos, pois, para ele, a atividade de linguagem baseia-se - por causa
de sua natureza semiótica - na criação de mundos virtuais. Sendo
assim, por convenção, os mundos representados pelos agentes humanos
são denominados por Bronckart (2007) de “mundo ordinário”,
cuja expressão estaria reunindo os três mundos formais postulados
por Habermas (1987); enquanto os mundos virtuais criados pela atividade
de linguagem são chamados de “mundos discursivos”.
Bronckart (2007) distingue quatro mundos discursivos: (a)
Mundo do Expor implicado, (b) Mundo do Expor autônomo, (c)
Mundo do Narrar implicado e (d) Mundo do Narrar autônomo. Para
a compreensão desses mundos discursivos é necessário, inicialmente,
tecer algumas considerações sobre os dois subconjuntos de operações
que ancoram as suas construções. Para o autor, o primeiro subconjunto
de operações explicita a relação existente entre as coordenadas
gerais do mundo ordinário no qual a ação de linguagem de que
o texto se origina é desenvolvida. Enquanto o segundo está especialmente
interligado, de um lado, ao relacionamento entre as várias
instâncias de agentividade (personagens, instituições, etc.) e sua inscrição
espaço-temporal (exatamente como são mobilizadas em um
texto) e, por outro lado, aos parâmetros físicos da ação de linguagem
em curso (agente-produtor, alocutário eventual e espaço-tempo de
produção).
O autor resume as operações de construção das coordenadas
gerais que organizam o conteúdo temático mobilizado em um texto
em uma decisão de caráter binário. Ou seja, essas coordenadas podem
ser apresentadas como “disjuntas” das coordenadas do mundo
ordinário da ação de linguagem, ou, não ocorrendo esse distanciamento
de forma explícita (através de uma origem espaço-temporal),
as coordenadas apresentam-se como “conjuntas” às da ação de linguagem.
Por meio dessa primeira distinção, Bronckart (2007) separa os
mundos “da ordem do NARRAR” (disjuntos) e os mundos “da ordem
do EXPOR” (conjuntos). Os mundos da primeira ordem são situados
em um “outro lugar” que pode ser avaliado ou interpretado
pelos seres humanos por permanecerem, em alguma medida, similares
ao mundo ordinário.
Em relação aos mundos da ordem do Expor, a situação mostra-
se de modo distinto, pois, por apresentarem conteúdo temático
dos mundos discursivos conjuntos, são sempre avaliados e interpretados
de acordo com os critérios de validade do mundo ordinário.
Bronckart (2007) também descreve as operações de explicitação
da relação com os parâmetros da ação de linguagem em curso
em termos de uma oposição de caráter binário. Ou um texto (ou
segmento de texto) pode “implicar” os parâmetros da ação de linguagem,
explicitando a relação que suas instâncias de agentividade
mantêm com esses parâmetros (agente-produtor, alocutário eventual
e sua situação no espaço-tempo) através de referências dêiticas a esses
mesmos parâmetros. Ou, ainda, essa relação pode não ser explicitada,
de forma que as instâncias de agentividade do texto relacionem-
se indiferente ou independentemente com os parâmetros da ação
de linguagem em curso, isto é, com “autonomia”.
A relação de implicação com os parâmetros da ação de linguagem
e a de autonomia com esses mesmos parâmetros são a segunda
distinção que Bronckart (2007) estabelece entre os mundos
discursivos.

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